terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Qual é o sentido da vida ?

A Subjetividade é a verdade, segundo Sören Aabye Kierkegaard.

Resumo: A verdade sempre foi objeto de muitas discussões. Assim, neste artigo, pretende-se apresentar as reflexões de Sören Aabye Kierkegaard acerca da verdade existencial. Para Kierkegaard, Deus é a Verdade Plena que só é alcançada mediante a fé após a superação do caminho proposto pelo próprio cristianismo. Segundo Destarte, a verdade não pode estar na multidão, mas, no individuo. Usando de um método próprio, Kierkegaard empreende a busca da verdade encontrando-a na subjetividade, isto é, na interioridade do indivíduo. Portanto, o obejtivo deste artigo é apresentar no que consiste, ou o que é, propriamente, para Kierkegaard, a verdade.
Palavras-chave: Verdade. Subjetividade. Fé.

Considerações preliminares: Sören A. Kierkegaard nasceu na Dinamarca em 1813. Viveu em uma época permeada pelo espírito revolucionário francês (1789), pelos sistemas filosóficos que pretendiam compreender e abarcar a existência humana na sua totalidade. Essa época também foi marcada pela profunda crise do cristianismo protestante frente à vivencia, o testemunho e a prática da verdade cristã. Este contexto filosófico, religioso, social, histórico foi decisivo para que Kierkegaard empreendesse uma busca ousada, no entanto, indispensável à vida do individuo: qual o sentido da minha existência.
A herança paterna, a fé e o zelo pela vida e pelo sagrado, significaram para Kierkegaard a preocupação pela descoberta do sentido de viver, de acreditar em um Deus inatingível e inacessível objetivamente, isto é, de encontrar a verdade da própria existência. Esta preocupação, encontrar a verdade da própria existência, é a raiz de toda a obra Kierkegaardiana. Toda a sua obra pretende ser um mergulho no próprio interior e um confronto com a realidade. As suas obras constituem sua própria experiência existencial, fundamentada na vivencia radical da fé cristã.

Segundo Secco: Esse autor pretendeu pensar a própria existência tanto com base na tradição do pensamento ocidental como na sua própria experiência pessoal, num horizonte dialético que privilegiava a descrição das esferas da existência como referencia a uma finalidade especifica, qual seja, o tornar-se consciente da própria vida com base na revolução cristã.(Secco, 2004, p. 925)

Assim, Kierkegaard compreendeu que, pela vivencia radical do cristianismo e pelo desejo de encontrar a verdade, é possível descobrir o sentido da existencial fundamental da vida. "É imprescindível encontrar o sentido da própria existência por que a vida é feita de instantes e cada instante é decisivo" (Kierkegaard, 1995, p. 36). Entretanto, o próprio cristianismo com a sua doutrina e exigências, oportuniza essa descoberta. Deste modo, percebeu Kierkegaard que a fé deve ser esse caminho que conduz a fonte e plenitude de toda existência e que essa busca não se pode fazer um grupo, mas deve ser uma busca individual, solitária, pois “A multidão é uma completa mentira. (Larrañeta, 1990, p 124). Por isso, Kierkegaard afirma que o individuo: [é} a categoria pela qual devem passar sob o ponto de vista religioso, a época, a historia a humanidade” (Kierkegaard, 2002, p. 124)

O indivíduo enquanto cristão é aquele que mergulha no seu interior para poder descobrir a verdade sobre si mesmo e testemunhá-la. Segundo Larrañeta, o “testemunho” é uma prova infalível do descobrimento da verdade, pois, só quem a descobre é capaz de sofrer pela verdade. Contudo, ainda permanece irresoluta esta questão: de acordo com Kierkegaard, o que é a Verdade?

A verdade proposta pelo cristianismo
O cristianismo, como tal oferece ao individuo as condições para que este compreenda o sentido do existir. Kierkegaard compreendia que o cristianismo permitia ao individuo voltar-se para seu interior e refletir sobre sua ação e relação com a realidade, mediante o encontro com Deus. O cristão é um indivíduo marcado pela subjetividade, pois, sendo a verdade algo que esta em relação essencial com o espírito, esta se constitui como a atividade de apropriação do seu próprio interior. (Larrañeta, 1990. P, 128)
Contudo, a tarefa de descobrir a verdade e chegar a ela não é fácil, segundo Kierkegaard. Para descobrir a verdade é imprescindível conhecer-se a si mesmo. É necessário esforçar-se e empenhar-se para superar as etapas da existência. Essas etapas são determinantes existenciais do caráter humano, instancia que se oferecem ao individuo na sua caminhada para encontrar a sua própria verdade. (Secco, 2004 p. 931-932)

O primeiro salto a ser dado pelo individuo é o de superar a aparência e a busca incessante dos prazeres imediatos. Kierkegaard denominou este estágio de Estético. Esta é a realidade da sociedade da época em que viveu Kierkegaard: “Se, pois, por hipótese, a maioria dos cristão só o é em imaginação, em que categorias vivem eles? Nas da estética ou, quando muito, nas categorias estético-éticas” (Kierkegaard, 2002, p.43).
Neste estágio [Estético] o individuo vive egoisticamente, sem regras, ou seja, não reconhece o outro como individuo, mas apenas como objeto para saciar a sua sede de prazer. Num primeiro momento, não há consciência do sentido da existência e nem de que possui liberdade de escolher, de optar. Para os indivíduos que vivem neste estágio, o prazer constitui o telos da existência.

El esteta ES, pues, el hombre que vive a flor da piel, el cazador de sensaciones que se vuelca sin limites em La inmediatez, em el instante huidizo e irrepetible em lo que tiene de interesante o placentero, el hedonista que ordena su existencia AL pracer y AL goce em toda su casi infinita gama de posibilidades, desde el goce de La vida hasta el goce de si mismo. (Colomer, 1990 p.61).

O individuo vive sempre buscando sensações, mas elas sempre lhe escapam. Ele vive o vazio de sua existência. Não é apenas uma insatisfação, mas é a angustia de não deter nada. A partir dessa angustia o individuo desencadeia o processo da descoberta do sentido da existência, pois, ele não pode continuar na situação que se encontra, uma vez que tem consciência de que poderia ter agido de outro modo. Não há resignação de angustia, mas há o desejo de libertar-se dela. Há um desejo de converter-se, de mudar de direção e sentido, ou seja, de tornar-se “um homem novo” (Kiekergaard, 1995 p.39). Deste modo, o que permite ao esteta superar este estágio é a consciência da sua própria existencia, visto que a angustia constitui o “fundo do poço” e também o inicio de uma nova etapa: a Ética.

No estagio [Ético], o individuo descobre como é viver com responsabilidades e deveres. Há a busca de estabelecer relações com os outros, com a sociedade e, nela, descobrir sua função, o seu papel e sua tarefa. O homem renuncia a ser um anônimo, uma exceção na sociedade. Enquanto o esteta vivia de prazer egoísta, o individuo ético vive no tempo e vê o tempo como aliado na construção de sua personalidade.
O ético é aquele que reconhece o aspecto transitório e evanescente do real. Como nada sólido pode se erguer sobre ele, refugia-se em sua interioridade, onde se reconhece valores morais e eternos sobre os quais é possível construir sua personalidade. Escolhe aceitar esses valores morais, pois, compreende que eles representam a expressão dessa liberdade, dessa vontade, que os aceita como tais. [..] O ético é aquele que pode conciliar sua vontade com a vida social sob a forma do dever. (Le Blanc, 2003 p.63)

Entretanto, Kierkegaard afirma que o individuo não se contenta apenas em cumprir suas obrigações, pois, assim seria um escravo do geral, do dever, ou seja, do exterior. O individuo vivendo esta situação compreende que sua história pessoal é marcada pelo justo, pelo injusto, pelo certo e pelo errado. O individuo toma consciência de sua condição humana, do seu pecado e do seu erro. Esta tomada de consciência, segundo Kierkegaard, só é possível por que o individuo descobre e afirma a sua subjetividade, isto é, o individuo conhece verdadeiramente a si mesmo. Assim, “a subjetividade apresenta-se como um poder de Redenção” (Le Blanc, 2003 p.63), pois, a subjetividade é a consciência do erro e/ou do acerto. Quem errou reconhece o erro por que sabia o que era o certo, o que era verdadeiro e arrepende-se de ter falhado. O Individuo vive, neste momento, o desespero. (O desespero é a paixão de devorar a si mesmo sem ter a capacidade de fazê-lo realmente. Colomer, 1990 p.72). Quando o individuo ético vive essa autentica desesperação e reconhece a necessidade do arrependimento, o salto para o estagio [Religioso] é possível.

Segundo Kierkegaard é neste estágio que o individuo relaciona-se com Deus e afirma a sua interioridade e a sua historia pessoal. Kierkegaard, partindo de sua busca existencial pela verdade e pelo sentido de sua existencia, afirma que o seu “erro foi na obter fé, a fé de que para Deus tudo é possível.” (Le Blanc, 2003 p.38). Somente com o arrependimento e com o desespero é possível superar o estágio Ético e lançar-se ao estágio religioso.

Ao atingir o estágio religioso, o individuo escolhe “estar diante de Deus” (Colomer, 1990 p.67) e vive uma experiência interior do ilimitado, do desconhecido. O individuo descobre a verdade, o sentido de sua própria existencia.
A passagem do estágio ético para o religioso se realiza por intermédio de um salto qualitativo, caracterizado pelo abandono de todo imperativo moral universal em direção a um domínio em que não se dispõe de diretrizes ou normas gerais de ação, domínio esse que deve ser realizado com base na interioridade infinita. Na passagem entre esses dois domínios o homem percebe a insuficiência da razão em auxiliá-lo e necessita agora de um novo instrumento que lhe permita enfrentar os paradoxos apresentados nesse novo domínio (Secco, 2004 p. 931)

O fato de estar diante de Deus significa para o individuo a afirmação de sua interioridade e o encontrar-se na subjetividade. Deus só é acessível pela subjetividade, pois, “na ordem temporal, Ele e eu não podemos conversar, não temos língua comum” (Kiekergaard, 1988 p.128). Pela subjetividade há propriamente, um dialogo entre o individuo e Deus, há uma relação de amor e de verdade, de entrega, de abandono e de fé. “A verdade promana duma operação da intimidade” (Silva, 1956 p. 72). O individuo recebe as condições para reconhecê-la, visto que Deus só é possível através de uma experiência de intimidade, de fé, e segundo Kierkegaard, “a fé é o modo de conhecimento do homem interior” (Silva, 1956 p.72) contudo “ter fé é assumir os riscos que derivam das possibilidades da existência” (Silva, 1956 p.72).

Segundo Kierkegaard: A fé é a mais alta paixão de todo homem. Talvez haja muitos homens de cada geração que não alcancem, mas, nenhum vai além dela. Se se encontram ou não muitos homens do nosso tempo que não a descobrem, não posso decidi-lo, por que apenas me é licita a referencia a mim próprio, e não devo ocultar que me resta ainda muito que fazer, (..). Mas mesmo para aquele que não chega até a fé, a vida comporta suficientes tarefas, e se as aborda com sincero amor, a sua vida não será perdida, mesmo que não possa ser comparada à existência dos que aprenderam e alcançaram o mais alto (Silva, 1956 p. 72)

Portanto, Kierkegaard assevera que o próprio cristianismo apresenta um caminho de descoberta do sentido e da verdade existencial. Esse caminho é constituído por etapas que são superadas à medida que o individuo toma consciência da sua condição humana. No fim desse caminho interior se encontra a Verdade, Deus. A interioridade é sempre algo subjetivo e o que é subjetivo torna-se uma questão primeiramente de fé.

Considerações finais: Com este artigo pretendeu-se abordar a concepção de Kierkegaard acerca da verdade, ou seja, o que realmente consiste encontrar a verdade. Para todo e qualquer individuo, assevera Kierkegaard, é imprescindível o encontro da verdade, pois, somente deste modo é possível responder àquela antiga, mas sempre atual pergunta, sobre o porquê vim ao mundo. Não é uma tarefa fácil, muito pelo contrário, é uma missão árdua que exige muita superação, dores, sofrimentos, perseverança e urgência.

Encontrar a verdade é urgente, segundo Kierkegaard, pois a finitude e a brevidade são condições inerentes à natureza humana. Portanto, a vida é, considerando-a enquanto existencia no mundo, passageira e finita. Assim sendo, o individuo deve empenhar sua vida nesse empreendimento, pois, é necessário descobrir o sentido da sua existencia.
O individuo somente descobrirá ou encontrará a verdade quando conhecer-se a si mesmo. O conhecimento essencial, ou seja, a verdade acerca do porquê vim ao mundo, tem como condição necessária a interioridade a subjetividade. Ao passar pelas etapas da existência, estética e ética, o individuo se dá conta do seu pecado, do seu erro e reconhece que precisa converter-se. A conversão é um processo que conduz a interioridade. Ao efetuar esse processo Deus se revela ao individuo como sendo a Plena Verdade. Assim , DeusPlena Verdade – revela ao individuo o sentido da sua existência. Deus é o que há de mais subjetivo no individuo. Por conseguinte, segundo Sören A. Kierkegaard, a subjetividade é a mais pura verdade. /../:)



Optei por ocultar o nome dos autores, no entanto este é o fator de menor importância à ser ressaltado, o que realmente importa é o conteúdo abordado neste artigo. Espero que você consiga entender corretamente a mensagem transmitida aqui, para isso se tornar possível você terá de abrir o coração e ultrapassar os limites e padrões impostos pela a esfera da razão.

Que Deus permita-nos enxergar cada vez mais além do que normalmente se vê, que abençoe a todos nós e que tenha demasiada misericórdia no dia do juizo final..

JONAS DE CAMPOS 15/02/2011

2 comentários:

  1. Maravilhoso e profundo, como tudo oq vc escreve! Vc eh um gênio com as palavras
    Bjus

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  2. Obrigado pelo elogio Su, mas por ironia, justamente este artigo não é de minha autoria. hehe
    Foi elaborado por estudantes de uma faculdade de psicologia aqui do Paraná.
    Mas de qualquer forma, a boa intenção obteve valia!
    Obg!
    :D

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